sábado, dezembro 22, 2007

Antónia Rodrigues

Do site http://www.eraumavezemaveiro.com/ a estória abaixo

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Antónia Rodrigues: a heroína de Mazagão Entre a riquíssima história que envolve o período da Expansão, pontuada a cada momento por pormenores sui generis, surge a figura de Antónia Rodrigues.

Natural do Bairro da Beira-Mar (como eu), em Aveiro, onde terá nascido em meados do século XVI (os autores apresentam datas divergentes para o seu nascimento balizadas entre 1560/62 e 31 de Março de 1580), esta personagem representa o espírito aventureiro da epopeia marítima portuguesa, para além de reflectir uma tradição medieval da figura feminina travestida. Em suma, estava-se perante uma maria-rapaz.
Filha de Simão Rodrigues, mareante que participara em viagens à Terra Nova, e de Leonor Dias nasceu num agregado numeroso e de parcos recursos. Terá sido, precisamente, a situação económica da família que motivou a sua ida para Lisboa, para casa de uma irmã já casada. Pouco adepta das tarefas caseiras ditas femininas e alvo de tratamento pouco afectuoso, cerca dos seus quinze anos procura um futuro melhor. O seu costume de conversar com os mareantes, junto à Praça da Ribeira, terá alimentado o desejo de partir à descoberta de novos lugares.
Para conseguir o seu intento disfarça-se de homem, cortando os seus cabelos e vestindo-se com roupas que comprara com o rendimento do seu trabalho de costura.A caravela que se preparava para rumar a Mazagão, no Norte de África, baptizada como Nossa Senhora do Socorro ter-lhe-á soado como o sinal de libertação, pelo que apresentando-se sob o nome de António Rodrigues tenta a sua contratação como marinheiro. Ao comandante invoca uma grave situação familiar como justificação plausível para se entregar a tão dura vida. Sobre a sua vida a bordo várias são as versões. Uma delas revela-a como um excelente navegador, nunca dando azo a dúvidas sobre o seu género, outra diz ter provocado problemas com o capitão terminando expulso no final da viagem.Fosse por iniciativa própria ou por imposição, chegado a Mazagão, António deixa a vida de barco e torna-se soldado na fortaleza local revelando-se hábil no manejo das armas e em combate. Será precisamente no serviço militar que alcançará a glória e o heroísmo. Conta-se que terá sabido da intenção de um ataque muçulmano à fortaleza e do seu desejo de destruição das cearas, um dos bens que, por então, Portugal buscava nessas paragens norte africanas, dada a escassez da produção nacional. Dirigindo-se ao governador da fortaleza para lhe revelar o que se congeminava convence-o a conferir-lhe um grupo de soldados que, sob o seu comando, faria frente ao Infiel. A empresa foi bem sucedida e obteve uma vitória marcante ao ponto de António se tornar num herói e ser elevado a oficial do exército (cavaleiro).A sua grande dedicação e o espirito de camaradagem que desenvolveu com os colegas alinhando sempre na diversão nunca fez desconfiar da sua origem. Para o reforçar terá mesmo inspirado paixões às quais fazia por corresponder. A figura atraente que se dizia ter e o comportamento educado alimentavam o mito em torno da sua personagem e abriam-lhe as portas das melhores famílias portuguesas que aí residiam. No entanto, o grande amor que despertou em D. Beatriz de Menezes, filha de D. Diogo de Mendonça, viria a mudar o rumo dos acontecimentos. O seu devaneio terá sido tão grande que a donzela cai enferma por mal de amor, facto que leva o seu pai, em desespero, a concedê-la em casamento a António como forma de a salvar do seu padecimento. Apesar de se tentar escusar com as mais variadas justificações, entre as quais a da sua inferior condição social, António não consegue demover D. Diogo, tão pesaroso que estava pelo definhar da sua filha, chegando mesmo a pedir a intercessão do governador local. Perante este cenário António vê-se forçado a deixar cair a sua máscara e a contar a verdade. O governador ordena-lhe, então, que se vista de acordo com o seu género.Não obstante a peculiaridade e o rocambolesco da situação, Antónia não é condenada, despertando, sim, a curiosidade geral: todos queriam conhecer o grande herói que, afinal, era... uma heroína. De imediato surgem vários pretendentes vindo a casar com um oficial em serviço em Mazagão. Anos mais tarde, já com um filho, terá voltado a Portugal ficando viúva algum tempo depois. A sua fama de herói permaneceria em terras lusas vindo a ser agraciada, pelo Rei D. Filipe II (de Castela), com a quantia de 200 cruzados, para além de receber uma tença no valor de 10.000 réis anuais e uma fanga de farinha por mês. O seu filho viria a tornar-se moço da Real Câmara.
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3 comentários:

garina do mar disse...

grande mulher!!!

Anónimo disse...

Um dos personagens mais fascinantes e curiosos do século de ouro espanhol é Catalina Erauso, apelidada A Monja Alferes, cuja vida está infestada de peripécias e aventura. Nascida em San Sebastián em 1592, era filha de um militar, Miguel de Erauso, e de María Pérez de Gallárraga e Arce. Aos quatro anos foi internada no convento de San Sebastián o Antigo, do qual uma tia sua era a priora, por isso tanto sua infância como sua adolescência as passou entre rezas e crucifixos, levando uma austera vida monacal.
No entanto, parece ser que seu caráter, inquieto e rebelde, não ia em consonância com a tranqüila forma de vida de intramuros. Por se fora pouco, uma discussão no claustro com uma robusta noviça, na qual nossa protagonista recebeu vários golpes, motivou que se decidisse a marchar do convento. Foi assim como, em 1607, quando mal contava quinze anos de idade, pendurou os hábitos e, disfarçada de caipira, cruzou as portas do convento para não retornar nunca.
Passou então a viver nas florestas e a alimentar-se de ervas, a viajar de povo em povo, temerosa de ser reconhecida. Sempre vestida como um homem e com o pêlo cortado a maneira masculina, adotou nomes diferentes, como Pedro de Orive, Francisco de Loyola, Alonso Díaz, Ramírez de Guzmán ou Antonio de Erauso.
Alguns autores afirmam que seu aspecto físico lhe ajudou a ocultar sua condição feminina: se a descreve como de grande estatura para seu sexo, pelo contrário feia e sem uns caráteres sexuais femininos muito marcados. Pedro de la Valle nos diz dela que "não tem peitos, que desde moça me disse haver feito você não sei que remédios para secá-los e deixá-la plana como lhe ficaram...". Também se diz que nunca se bañaba, e que deveu adotar comportamentos masculinos para assim poder ocultar sua verdadeira identidade.
Sob algum destes nomes alcançou chegar em Sanlúcar de Barrameda, embarcando mais demore em uma nave para o Novo Mundo. Em terras americanas desempenhou diversos ofícios, atracando no o Peru. Em 1619 viajou para o Chile, onde, ao serviço do rei da Espanha, participou de diversas guerras de conquista. Destacada no combate, rapidamente adquiriu fama de valente e destra no uso das armas, o que lhe valeu alcançar o grau de alferes sem desvelar nunca seu autentica condição de mulher.
Amante das rixas, do jogo, os cavalos e o galanteio com mulheres, como corresponde aos soldados espanhóis da época, foram várias as vezes em que se viu envolvida em pendências e você briga. Em uma delas, em 1615, na cidade de Conceição, atuou como padrinho de um amigo durante um duelo. Seja como for seu amigo e seu oponente caíram feridos ao mesmo tempo, Catalina tomou sua arma e se enfrentou ao padrinho rival, ferindo gravemente. Moribundo, este informou seu nome, sabendo então Catalina que se tratava de seu irmão Miguel.
Em outra ocasião, estando na cidade peruana de Huamanga em 1623, foi detida por causa de uma disputa. Para evitar ser justiçada, se viu obrigada a pedir clemência ao bispo Agustín de Carvajal, contándole além disso que era mulher e que tinha escapado fazia já bastantes anos de um convento.
Assombrado, o bispo determinou que um grupo de matronas a examinariam, comprovando que não só era mulher, mas virgem. Depois deste exame, recebeu o apoio do eclesiástico, quem a pôs sob sua tutela e a enviou à Espanha.
Conhecedores de seu caso na corte, foi recebida com honras pelo rei Felipe IV, quem lhe confirmou sua graduação e emprego militar e a chamou "monja alferes", permitindo além disso a empregar um nome masculino.
Algo mais demore, enquanto seu nome e você aventura corriam de boca em boca por toda Europa, Catalina viajou para Roma e foi recebida pelo papa Urbano VIII, quem lhe deu permissão para continuar vestindo como homem.
Durante esta tranqüila etapa, ela mesma escreveu ou ditou suas próprias memórias, a "História da monja alferes", publicadas em Paris muito mais demore, em 1829, e traduzidas a vários idiomas. Do livro, no qual em muito de quanto se conta é difícil distinguir a realidade da ficção, surgiram também adaptações, como a de Thomas de Quincey, assim como obras de teatro e filmes.
Mas seu espírito inquieto e aventureiro não conhece repouso. Em 1630, a monja alferes viaja de novo à América e se instala no México, onde gerencia um negócio de arrearia ou transporte de mercadorias entre a capital mexicana e Vera cruz. A partir de 1635 pouco se sabe de sua vida, salvo que morreu em Cuitlaxtla, localidade perto a Povoado, quinze anos depois. No entanto, também não se conhecem as causas de seu falecimento, pois uns disseram que tinha morrido assassinada, outros que em um naufrágio e outros, os mais dados à fantasia, que se a tinha levado o diabo.


Magoa que Catalina e Antonia nem coincidissem no mesmo tempo!!!

Eugénio disse...

GRANDES ESTÓRIAS!
E parabéns ao "homesdepedra", escreve melhor português que eu galego :)