“…
Oh João:
Esta é imperdoavél
Então amarras o "Veronique" à popa, só com um spring e um través, com outras embarcações atracadas a ti de braço dado?
Onde está o lancante para "jogar" com o spring de vante?
Nem parecem coisas de um dos skippers mais famosos de Portugal, qiçá, o mais famoso de Aveiro, pois,
…”
Há um romance delicioso do Jorge Amadao, “Os velhos marinheiros ou o Capitão de Longo Curso”, cuja história resumida é a de um individuo, participante de uma tertúlia numa cidade do Brasil em que ele era o único ‘não bacharel’ do grupo.
Descontente com a situação, foi-lhe proposto por um companheiro do grupo, o Capitão do Porto onde viviam, fazer uma espécie de exame, em que ele seria o examinador, e o nosso amigo, Vasco Moscoso de Aragão, ficaria então com o titulo de Capitão de Longo Curso, mesmo sem nunca ter saído, uma vez que fosse, ao Mar.
Se assim o pensou, melhor o fez, e o nosso comandante, dono de uma imaginação prodigiosa, passou a contar, nas tertúlias, histórias de grandes viagens, naufrágios, ataques de piratas, tempestades assustadoras e outras aldrabices que todos nós também contamos.
Tudo corria bem até que um paquete arribou àquela cidade com o capitão morto.
Impunha-se encontrar quem o substituisse e, naquela cidade, o mais famoso comandante era o nosso amigo, Vasco Moscoso de Aragão.
Declinou várias vezes, mas, pressionado, teve de acabar por aceitar.
A viagem decorreu bem, o paquete era de luxo, o nosso comandante fez a viagem nos salões e, quando instado sobre as manobras a efectuar, respondia sempre, ‘fazei como é habito fazer…’
E assim decorria a viagem.
Quando o navio arribou ao ultimo porto do destino, o imediato foi chamar o Comandante Vasco Moscoso de Aragão para coordenar a manobra final de amarração, e ele voltou a responder, ‘fazei como é habito fazer..’
Mas era tradição a ultima manobra da viagem ser coordenada pelo capitão e o nosso comandante não teve alternativa senão subir à ponte e ordenar a manobra.
À questão de quantas amarras deviam ser colocadas, respondia sempre ‘TODAS’, quantos ferros? ‘TODOS’, quantos lançantes à proa?, ‘TODOS’, quantas regeiras? TODAS…
Foi a risota geral e o desmascarar do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, que nunca tinha ido ao MAR.
Recolheu o Comandante Vasco Moscoso de Aragão ao Hotel triste e de orelha murcha.
Mas nessa noite um violento furacão abateu-se sobre aquele porto e todos os navios soçobraram.
Todos? Não, o navio do nosso Comandante foi o único que se manteve firme, tal o numero de amarras que o prendiam a terra….
Pois é Amigo João David, em Peniche eu fui o Vasco Moscoso de Aragão da Avela.
2 comentários:
Tu és o máximo!
Como comprendeste estava a brincar contigo.
Conheço bem esta história do grande Jorge Amado.
Já agora conto-te uma anedota:
Um navio chegou Belem do Pará para subir o rio Amazonas para carregar madeira em Manaus.
Quando o piloto de rio embarcou, o capitão desconfiado perguntou-lhe se ele conhecia bem o rio.
Diz-lhe o piloto imediatamente: conheço-o como as minhas mãos, não tenha problemas, comandante.
Poucas milhas era navegadas e o navio encalhou.
O piloto não deixou que o comandante abrisse a boca e disse-lhe: Conheço tão bem o rio que encalhámos, porque aqui é um baixo.
E esta?
Ganda João! Vascos Moscosos de Aragão há muitos, mas de certeza que tu não és um deles...
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