sexta-feira, dezembro 23, 2022

O Inicio (espero)

 


Começamos em Baiona.

Baiona é talvez a mais portuguesa das  terras galegas.

É difícil, sobretudo de Verão, andar pelas ruelas e pelos bares e pelas marinas sem ouvir falar português. Da minha parte, fui muito mais vezes a Baiona de veleiro que de carro. Foram mais de dez viagens de veleiro antes da primeira vez por estrada.

Baiona é assim, celta e mágica.

O porto de recreio do MRCY – Monte Real Clube de Yates tem uma localização privilegiada na baia de Baiona, na entrada da Ria de Vigo. A Norte temos as Estelas e o Monte Ferro, com a “ passagem das pedras” para o lanço que dá acesso a  Vigo, a Cangas, às Cies, que abrigam a Ria do Oceano aberto.

O Clube tem um restaurante de acesso restrito, mas aberto aos utentes velejadores que aqui arribam. O ambiente requintado, com toalhas e guardanapos de pano, madeiras bem distribuídas, serviço de qualidade. Só não é o mais frequentado pela minha tripulação porque a oferta de restaurantes em Baiona é supimpa e a minha rapaziada prefere ambientes mais informais e frequentados.

Ultimamente temos ido amiúde ao Racuncho Mariñeiro, na rua paralela à marginal, que oferece umas  muito boas tapas, "isabelinhas" e chipirones, e a preços muito simpáticos também.

Baiona foi palco de muitas e boas estórias com as minhas tripulações, anos seguidos, com as viagens às Cies, a Vigo, às rias mais a norte, à de Aldan e à de Arosa, que me deixaram as melhores recordações.

Foi a Baiona que arribou Pinzon, de regresso das Índias, como ele dizia. Numa época em que o calculo da latitude não levantava problemas aos pilotos, enquanto Pinzon tocava os areais de Baiona o almirante Colombo arribava ao Tejo, para se encontrar com D João II, que estava em Azambuja, o que o levou a subir o Tejo e dar conhecimento ao rei rival dos seus do resultado da sua viagem às “Indias”.

Pinzon dá nome a ruas e a hotéis em Baiona, é o seu herói.

Na saída de Baiona para Sul temos logo pela frente os ‘Lobos’, uma série de recifes e escolhos, ao largo do cabo Sileiro, devidamente assinalados com uma boia cardinal.

De uma vez, saía com um amigo e com rumo a Aveiro, desligamos a máquina e mareamos para SW com um vento quase contrário. Desci à cabine, não me lembro já para quê, e o meu amigo, ao leme e para ganhar vento, arribou ao vento, ficando com os Lobos mesmo na proa. Chamou-me em urgência porque tínhamos um submarino a emergir mesmo à nossa frente. Apercebendo-me de que se tratava dos Lobos, fiz leme imediatamente para oeste, orçando, mas safamo-nos dos recifes.

Doutra vez, no mesmo local e com o mesmo vento, falho-me a máquina e tive de regressar só com vela a Baiona, sendo acompanhado por um outro veleiro de Aveiro, que me auxiliou na manobra de amarrar no MRCY. Ainda hoje sou lembrado no clube por esse incidente.



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