Começamos em Baiona.
Baiona é talvez a mais
portuguesa das terras galegas.
É difícil, sobretudo de Verão, andar pelas ruelas e pelos bares e pelas marinas sem ouvir falar português. Da minha parte, fui muito mais vezes a Baiona de veleiro que de carro. Foram mais de dez viagens de veleiro antes da primeira vez por estrada.
Baiona é assim, celta e
mágica.
O porto de recreio do MRCY –
Monte Real Clube de Yates tem uma localização privilegiada na baia de Baiona,
na entrada da Ria de Vigo. A Norte temos as Estelas e o Monte Ferro, com a “
passagem das pedras” para o lanço que dá acesso a Vigo, a Cangas, às Cies, que abrigam a Ria do
Oceano aberto.
O Clube tem um restaurante de
acesso restrito, mas aberto aos utentes velejadores que aqui arribam. O
ambiente requintado, com toalhas e guardanapos de pano, madeiras bem
distribuídas, serviço de qualidade. Só não é o mais frequentado pela minha
tripulação porque a oferta de restaurantes em Baiona é supimpa e a minha
rapaziada prefere ambientes mais informais e frequentados.
Ultimamente temos ido amiúde ao Racuncho Mariñeiro, na rua paralela à marginal, que oferece umas muito boas tapas, "isabelinhas" e chipirones, e a preços muito simpáticos também.
Baiona foi palco de muitas e
boas estórias com as minhas tripulações, anos seguidos, com as viagens às Cies, a
Vigo, às rias mais a norte, à de Aldan e à de Arosa, que me deixaram as melhores
recordações.
Foi a Baiona que arribou
Pinzon, de regresso das Índias, como ele dizia. Numa época em que o calculo da
latitude não levantava problemas aos pilotos, enquanto Pinzon tocava os areais
de Baiona o almirante Colombo arribava ao Tejo, para se encontrar com D João
II, que estava em Azambuja, o que o levou a subir o Tejo e dar conhecimento ao
rei rival dos seus do resultado da sua viagem às “Indias”.
Pinzon dá nome a ruas e a
hotéis em Baiona, é o seu herói.
Na saída de Baiona para Sul
temos logo pela frente os ‘Lobos’, uma série de recifes e escolhos, ao largo do
cabo Sileiro, devidamente assinalados com uma boia cardinal.
De uma vez, saía com um amigo
e com rumo a Aveiro, desligamos a máquina e mareamos para SW com um vento quase
contrário. Desci à cabine, não me lembro já para quê, e o meu amigo, ao leme e
para ganhar vento, arribou ao vento, ficando com os Lobos mesmo na proa.
Chamou-me em urgência porque tínhamos um submarino a emergir mesmo à nossa
frente. Apercebendo-me de que se tratava dos Lobos, fiz leme imediatamente para
oeste, orçando, mas safamo-nos dos recifes.
Doutra vez, no mesmo local e com
o mesmo vento, falho-me a máquina e tive de regressar só com vela a Baiona,
sendo acompanhado por um outro veleiro de Aveiro, que me auxiliou na manobra de
amarrar no MRCY. Ainda hoje sou lembrado no clube por esse incidente.
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