terça-feira, abril 23, 2013

De Cascais a Ponta Delgada, 2004

Esta história já a publiquei aquando da viagem, em 2004. Hoje, ao arrumar uns ficheiros, reencontrei-a e republico-a.
É a narrativa dos meus Amigos Nuno e Carla que seguiam a algumas milhas de nós, a bordo do Babilé, e que encontraram a mesma depressão que nós:

"...
No mesmo rumo, em posição diferente...

A Carla e o Nuno a cumprirem a tradição na Horta.

Babilé rumo aos Açôres - diário de bordo!

7h - O vento entrou, e entrou fresco, 15 nós. Estamos com o pano todo em cima, e descansados já que a noite anterior deu para por o sono em dia. Mas ainda não deve ser este o vento que nos leva a Ponta Delgada, não é de NW...

12h - Opa!!! Assim sim, estamos a fazer 7 nós constantes, num rumo muito perto do que queremos. Tudo calmo a bordo, o Babilé mantem-se em forma. E a restante frota ??? Gostavamos de saber…Não falamos com ninguém desde que largamos de Cascais!

16h - Não conseguimos prosseguir o rumo de 280º, o vento está em 270º e já nos 20 nós. O mar cresceu, o céu ameaça chuva, vamos arribar um pouco…pode ser que passe. Preparamo-nos para chuva, é Julho e parece que estamos em Janeiro…

19h - Está impossível, o vento cresceu muito o mar também. O anemometro deixou de funcionar, mas por referências de outras navegações, está acima dos 30 nós. Estamos no primeiro rizo, e viramos a 190º, o céu faz uma ferradura com nuvens escuras e só deixa abertura para sul.

21h - Fechou completamente, o horizonte está todo fechado. A noite está a cair, a única saída mais calma é para 90º exactamente o rumo para o continente… o barometro baixou muito, pelo que deve ser uma depreessão, o Navtex não dá nada hà 3dias! Estamos no segundo rizo de vela grande e genoa, o Babilé está solto mas com dificuldade em vencer o mar de proa. Arribamos.

Condições a intensificarem-se!

23h - A opção de correr com o tempo já não melhora muito, estamos dentro da borrasca. Vento acima dos 40nós de certeza. Mar de vento mas muito grosso, rebenta com grande intensidade no costado do Babilé sempre que não conseguimos aproar.

Estamo em àrvore seca e ligamos o motor para a proar ao vento, decisão dificil, mas nestas condições a segurança acima da competição, SEMPRE!

Estamos no interior do Babilé com tudo fechado, ainda tentamos ficar no poço mas duas vagas entraram dentro e ficou demasiado inseguro.

6º Dia

2h - Um estrondo enorme no costado do Babilé, e àgua a entrar pelo tecto como se fosse um chuveiro. O piloto não aguentou aproado ao mar, e uma vaga passou por cima de nós. De dentro sente-se que contiuamos atravessados ao mar, temos que fazer algo. Vou lá for a ao leme, de gatas pelo poço..., está tudo encharcado, o barulho do vento e do mar são de respeito, o gerador eolico parece que vai entrar em orbita a qualquer momento. Dou mais 15º de leme ao piloto e ficamos a 20º graus ao mar… o comportamento do barco melhora e no interior também. Venho para dentro e não conto o cenário que está lá fora…mantemo-nos em silêncio! O interior está um caus, tachos espalhados, armarios que abriram, livros a monte...

Estas é daquelas situações que já tinhamos lido, ou visto em filme, mas agora para nós foi ao vivo e a cores!

6h – Estamos com uma “baloiçar” mais folgado, o vento está amainar o mar também...

10h – Estamos exaustos, mas já vamos à vela, no 1º rizo e andar bem... vamos fazer quartos de dia para pôr o sono em dia...depois arrumamos o Babilé, está um caus de bagunça no interior...

Continuamos rumo AÇORES!

... Tão perto...e tão longe!!!

Babilé SailingTeam

12:26 AM

..."

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