Um dia, então jovem e promissor
engenheiro da RR, uns estagiários de Arouca apostaram comigo que não conseguiria atravessar a
serra Freita de Arouca para S Pedro do
Sul.
Aceite a aposta, fizemos não uma
mas várias travessias, com estórias deliciosas, que contarei uma ou outra vez.
O meu acervo fotográfico serrano
é muito menor que o oceânico.
Pelas "pens" do meu
refúgio musico-livristico aqui da Costa sou capaz de encontrar mais .
Hoje vou contar-vos o episódio do
"feijão encarnado".
Quando atravessávamos a serra da
Freita entre Vale de Cambra ou Arouca e as termas de São Pedro do Sul, pernoitávamos
no Alto de Chãs, numas velhas minas de volfrâmio, abandonadas há muito.
Notava-se um período áureo passado,
as casas ao lado dos pavilhões do volfrâmio estavam ainda bem arranjadas e algumas
tinham mesmo caramanchões. Da primeira vez que lá passamos ainda dormi numa
cama de ferro com colchão de palha. Da vez a seguir já tudo tinha sido
vandalizado e dormimos no chão.
O nosso jantar eram latas de
conserva que abríamos e aquecíamos num fogo que fazíamos.
Duma vez fomos acompanhados por
um colega e amigo, novo naquelas andanças. Perguntou-nos o que devia levar para
o jantar, recomendamos-lhe umas latas de feijoada, que era o que nós também levaríamos.
Quando à noite nos sentávamos à
volta do fogo com as nossas latas de feijoada, o nosso amigo debutante perguntou-nos
se as nossas latas tinham carne, queixou-se que a dele só tinha feijão.
Verificada a questão, viu-se que
tinha comprado uma lata de feijão encarnado, ENCARNADO, isto é, encarnado
deveria ter carne.
Ainda hoje, tantos anos depois,
nos rimos e brincamos com o episódio do feijão ENCARNADO.